Resistência foi um dos grupos portugueses mais importantes do início da década de 1990. O projecto consistiu na união de esforços entre vários músicos, provenientes de diversas bandas, e na transformação, adaptação e nova orquestração de temas trazidos por eles (e não só) para uma vertente mais acústica e virada para uma valorização da "voz" como instrumento, e na junção dessas mesmas vozes, mostrando a força da união. Os temas, quando interpretados pela Resistência, ganharam vida nova e uma alma genuína, nunca antes vista.
O grupo era constituído por Alexandre Frazão na bateria, Rui Luís Pereira (Dudas) na guitarra, Fernando Cunha na voz e guitarras, Fernando Júdice e Yuri Daniel no baixo, Fredo Mergner na guitarra, José Salgueiro na percussão, Miguel Ângelo na voz, Olavo Bilac na voz, Pedro Ayres Magalhães na voz e guitarras e Tim também na voz e guitarras.
História
Como tudo começou
Na cidade de Lisboa, na edição da Feira do Livro de 1989, deu-se o primeiro passo para a criação do projecto que, mais tarde, se iria designar por Resistência. Teresa Salgueiro, Anabela Duarte e Filipa Pais, ao lado de Pedro Ayres Magalhães, o mentor do projecto, estiveram presentes numa sessão experimental primordial.
Na reunião seguinte, as vozes femininas dos Madredeus, Mler Ife Dada e Lua Extravagante, deram a vez a um elenco completamente masculino, cujo núcleo contou com Pedro Ayres Magalhães, Miguel Ângelo, Tim, Fernando Cunha e Olavo Bilac (nesta altura já existiam os Santos & Pecadores, mas ainda não tinham gravado). A esse rol de artistas juntaram-se uma série de nomes tais como José Salgueiro e Alexandre Frazão na bateria e percussões, Rui Luís Pereira (Dudas) e Fredo Mergner nas guitarras e também Fernando Júdice e Yuri Daniel no baixo. A voz de Olavo Bilac juntou-se ao projecto e o elenco ficou completo, com três vozes principais e seis guitarras acústicas.
Os temas do sucesso
Temas como "Não Sou o Único", dos Xutos & Pontapés e "Nasce Selvagem" dos Delfins foram adaptados pelo novo grupo e muito rapidamente se transformaram nos principais hinos da Resistência. No São Luís, em Lisboa, a Resistência apresentou em concerto os temas "Só no Mar", "Nunca Mais", "Marcha dos Desalinhados", "No Meu Quarto" e "Aquele Inverno", além do grande sucesso, "Circo de Feras". Estes temas, entre outros, vieram a fazer parte do disco de estreia, "Palavras ao Vento".
Por ordem alfabética dos títulos dos temas, passamos a associar a origem de cada tema da Resistência, no que diz respeito à banda ou artista a que originalmente pertence:
"A Noite" (Sitiados)
"Amanhã é Sempre Longe Demais" (Rádio Macau)
"Aquele Inverno" (Miguel Ângelo / Fernando Cunha - Delfins)
"Chamaram-me Cigano" (Zeca Afonso)
"Circo de Feras" (Xutos & Pontapés)
"Erva Daninha" (António Variações) - Tema não acabado
"Esta Cidade" (João Gentil) (Xutos & Pontapés)
"Fado" (Pedro Ayres Magalhães / Paulo Pedro Gonçalves / António José de Almeida - Heróis do Mar)
"Fim" (João Gil - Trovante)
"Finisterra" (Rui Luís Pereira - Dudas)
"Liberdade" (Pedro Ayres Magalhães)
"Marcha dos Desalinhados" (Miguel Ângelo / Fernando Cunha - Delfins)
"Mano a Mano" (Pedro Ayres Magalhães - Madredeus)
"Não Sou o Único" (Zé Pedro) - Xutos & Pontapés
"Nasce Selvagem" (Miguel Ângelo / Fernando Cunha - Delfins)
"No Meu Quarto" (Miguel Ângelo / Fernando Cunha - Delfins)
"Nunca Mais" (Pedro Ayres Magalhães - Heróis do Mar)
"Perigo" (João Gil - Trovante)
"Prisão Em Si" (Tim - Xutos & Pontapés)
"Que Amor Não me Engana" (Zeca Afonso)
"Só no Mar" (António José de Almeida / Pedro Ayres Magalhães - Heróis do Mar)
"Traz Outro Amigo Também" (Zeca Afonso)
"Um Lugar ao Sol" (Miguel Ângelo / Fernando Cunha - Delfins)
"Timor" (Pedro Ayres Magalhães)
"Voz-Amália-de-Nós" (António Variações)
"Vai sem Medo" (Madredeus & a Banda Cósmica)
"Baloiçando nas Estrelas" (Madredeus & a Banda Cósmica)
"Cidade Fantasma" (Rádio Macau)
"Canção de Amor" (Rádio Macau)
"Estrela da Vida" (Delfins)
"Balada do Bloqueio" (Delfins)
"Ser Maior" (Delfins)
"Deitar a Perder" (Xutos & Pontapés)
"Perfeito Vazio" (Xutos & Pontapés)
"Gota a Gota" (Xutos & Pontapés)
"Melhor Amigo" (Tim)
O impacto dos discos
O primeiro registo, "Palavras ao Vento", chegou às lojas em 1991, tendo sido gravado em Outubro e Novembro do mesmo ano, nos estúdios Êxito (Lisboa), com Jonathan Miller e Tó Pinheiro da Silva (Engenheiros de Som) e Paula Margarida e Rui Silva (Assistentes de Som). A masterização ficou também a cargo de Jonathan Miller, embora feita nos CTS Studios, em Wembley, Inglaterra.
No ano seguinte a banda rumou à estrada, conseguindo o feito de trinta concertos no total, durante o Verão. Foi uma prova dura para a banda, mas superada com distinção.
Após a dupla-platina conquistada, a Resistência apresentou mais um disco em 1992. "Mano a Mano". O segundo disco tomou forma com os mesmos músicos do primeiro trabalho, mas verificou-se alguma inovação. O disco "Mano a Mano" incluía temas como "Timor", "Esta Cidade", "Perigo", "Fim", "Prisão em Si", e ainda os bem sucedidos "Um Lugar ao Sol" , "A Noite" e "Aquele Inverno".
Feitos à estrada
Já no fim do ano, regressam aos palcos no Porto e em Lisboa, tendo as actuações na capital originado um álbum ao vivo editado em 1993. O disco "Ao Vivo no Armazém 22" apresentou algum material inédito e incluía também uma introdução escrita de autoria de Pedro Ayres Magalhães.
1993 também ficou marcado pelo retorno aos espectáculos, que encaminhou a Resistência a vinte cidades de Portugal. O grupo participa também no primeiro "Portugal ao Vivo", em Alvalade.
O grupo lança também o video "Ao Volante do Éter".
Os últimos cartuchos
No seguinte ano de 1994, foram convidados a participar numa homenagem a José Afonso a que se chamou "Filhos da Madrugada", um cd duplo. O tema "Chamaram-me Cigano" foi o escolhido para a homenagem e é a terceira faixa do segundo disco. No fim de Junho seguinte, aliás, como muitas outras bandas portuguesas que integraram o projecto simbólico, a Resistência participou também no concerto de apresentação, que teve lugar no então Estádio José de Alvalade.
O grupo participa no disco de tributo a António Variações denominado "Variações - As Canções de António", com o tema "Voz-Amália-de-Nós".
O fim (será?)
Apesar da obrigação para com a editora em gravar um quarto álbum, a banda está inativa desde 1994 e os músicos retornaram aos seus respectivos projectos.
A Resistência foi, sem sombra de dúvida, um projecto que enalteceu a música portuguesa e a "cena" musical portuguesa como um todo. Deu também um novo alento às bandas e autores que "emprestaram" os seus elementos e músicas à causa. Fica no ar a certeza de todos os que vibraram com aquele conjunto de vozes e guitarras durante aqueles anos, e que continuam a fazê-lo a até hoje, de que se a Resistência tem continuado, ou se ela volta, só tem coisas boas para dar à música portuguesa...
Em 2012 é lançada a compilação "As Vozes de Uma Geração" com todos os temas dos dois primeiros álbuns, os temas "Voz-Amália-De-Nós" e "Chamaram-Me Cigano" e ainda dois temas do álbum ao vivo. Acresce ainda um livro com um texto biográfico do jornalista António Pires, dezenas de fotos de Augusto Brázio e as letras de todas as canções.
Regresso para concerto
Em Setembro de 2012, foi anunciado o regresso para dois concertos, um a 19 de Dezembro de 2012 no Campo Pequeno, em Lisboa, e outro no Multiusos de Guimarães, no dia 29 de Dezembro de 2012, que servem para assinalar os vinte anos da estreia ao vivo do grupo. Depois do êxito dos concertos em Lisboa e Guimarães, é marcado em Abril de 2013 dois concertos no Porto, nas datas 26 e 27. Foi também já anunciado a sua participação no festival Portugal ao Vivo, no estádio do Restelo no dia 22 de Junho. A 31 de Julho de 2013 participaram na Expofacic em Cantanhede.
Em 2 de Julho de 2016, actuaram em Castelo Branco, concerto integrado na bienal do azeite, enchidos e queijos da região. Estiveram presentes o Tim, Miguel Angelo, Olavo Bilac, Pedro Joia e outros, a quem peço desculpa por não os conseguir identificar, sendo o grupo composto por nove elementos.
Alexandre Frazão, Fernando Cunha, Fernando Júdice, José Salgueiro, Mário Delgado, Miguel Ângelo, Olavo Bilac, Pedro Ayres Magalhães, Pedro Jóia, Rui Luís Pereira e Tim trabalharam entretanto na abordagem a novas canções e está anunciado para breve o lançamento de um novo disco.
Novo álbum em 2014
Em 24 de Novembro de 2014, os Resistência regressam com o álbum "Horizonte". O disco marca o regresso dos Resistência aos estúdios de gravação, após 22 anos de ausência, com onze novas canções resgatadas ao repertório de Madredeus & a Banda Cósmica, Delfins, Xutos & Pontapés, Tim e Rádio Macau.
Discografia
Álbuns de Estúdio
1991 - Palavras ao Vento (BMG)
1992 - Mano a Mano (EMI)
2014 - Horizonte (Warner)
Compilações
2012 - As Vozes De Uma Geração (EMI)
Álbuns ao Vivo
1993 - Ao Vivo no Armazém 22 (BMG)
Participações em Colectâneas
1994 - Filhos da Madrugada Cantam José Afonso ("Chamaram-me Cigano")
1994 - Variações - As Canções de António ("Voz-Amália-de-Nós")
1994 - Colectânea Número 1 ("Voz-Amália-de-Nós")
1997 - 100 Grandes Vedetas da Música Portuguesa - Selecções Reader's Digest ("A Noite")
2007 - A Herança Musical de José Afonso ("Traz Outro Amigo Também")
Nota: o presente post recolheu informação da Wikipedia, do Youtube e Amusicaportuguesa
Letra e música de Pedro Ayres Magalhães
Resistència
Vai Sem Medo
Vai sem medo
é de novo o começo
que outra vez acontece
o horizonte escurece
faz-se um grande sossego,
Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Que te possa ajudar
Vai depressa
E parte à descoberta
Porque a noite aparece
Nem há sombras no chão
E é tão grande o segredo
Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Que te possa guiar
Pensa grande
Num futuro distante
Em que possas mudar
Teu amor encontrar
Num caminho incerto
Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Só quem vais encontrar
Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Só quem vais encontrar