Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido por Chico Buarque - nascido no Rio de Janeiro, a 19 de Junho de 1944 - é um músico, dramaturgo e escritor brasileiro. É conhecido por ser um dos maiores nomes da música popular brasileira (MPB). A sua discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos.
Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e de Maria Amélia Cesário Alvim, escreveu o seu primeiro conto aos 18 anos, ganhando destaque como cantor a partir de 1966, quando lançou o seu primeiro álbum, "Chico Buarque de Hollanda", e venceu o Festival de Música Popular Brasileira com a música "A Banda".
Autoexilou-se em Itália em 1969, devido à crescente repressão do regime militar do Brasil nos chamados "anos de chumbo", tornando-se, ao retornar em 1970, um dos artistas mais activos na crítica política e na luta pela democratização no país.
Na carreira literária, foi vencedor de três Prêmios Jabuti: o de melhor romance em 1992 com "Estorvo" e o de Livro do Ano, tanto pelo livro "Budapeste", lançado em 2004, como por "Leite Derramado", em 2010.
Foi casado durante 33 anos (de 1966 a 1999) com a actriz Marieta Severo, com quem teve três filhas: Sílvia Buarque, Helena e Luísa. Chico é irmão das cantoras Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina. Ao contrário da crença popular, o diccionarista Aurélio Buarque de Holanda era apenas um primo distante do pai de Chico.
A 2 de Dezembro de 2012, foi confirmado por Miguel Faria, um documentário, do qual apresentará um show de Chico organizado para a produção, mesclado com depoimentos dele e de outros nomes da música nacional, além de encenações com personagens das canções mais famosas do artista.
Biografia
Francisco Buarque de Hollanda nasceu a 19 de Junho de 1944 na cidade do Rio de Janeiro, filho de Sérgio Buarque de Hollanda (1902–1982), um importante historiador e jornalista brasileiro, e de Maria Amélia Cesário Alvim (1910–2010), pintora e pianista.
Nos primeiros versos da sua canção "Paratodos", Chico Buarque celebra os seus ascendentes familiares: "O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano". O "avô pernambucano" ao qual o cantor se refere era paterno: Cristóvão Buarque de Hollanda. Já o "bisavô mineiro", Francisco Cesário Alvim, e o "tataravô baiano", Eulálio da Costa Carvalho, eram pelo lado materno.
Em 1946, mudou-se para São Paulo, onde o pai assumiu a direção do Museu do Ipiranga. Chico sempre revelou interesse pela música. Tal interesse foi bastante reforçado pela convivência com intelectuais como Vinicius de Moraes e Paulo Vanzolini.
Em 1953, Sérgio Buarque de Hollanda, pai do cantor, foi convidado para lecionar na Universidade de Roma. A família Buarque de Hollanda mudou-se, então, para Itália. Chico aprende dois idiomas estrangeiros: na escola, fala inglês, nas ruas, italiano. Nessa época, compõe as suas primeiras marchinhas de Carnaval.
Chico regressou ao Brasil em 1960. No ano seguinte, produziu as suas primeiras crónicas no jornal Verbâmidas, do Colégio Santa Cruz de São Paulo, nome criado por ele. A sua primeira aparição na imprensa, porém, não foi em relação ao seu trabalho, mas sim policial. Publicada, no jornal Última Hora, de São Paulo, a notícia de que Chico e um amigo furtaram um carro nas proximidades do estádio do Pacaembu para passear pela madrugada paulista foi anunciada com a manchete "Pivetes furtaram um carro: presos".
Em 1998, o artista foi homenageado no Desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, pela GRES Estação Primeira de Mangueira, no enredo "Chico Buarque da Mangueira". A escola verde e rosa dividiu o título de campeã daquele carnaval com a Beija-Flor de Nilópolis.
Em 2015, participou da canção "Trono de Estudar", composta por Dani Black em apoio aos estudantes que se articularam contra o projecto de reorganização escolar do governo estadual de São Paulo. A faixa teve a participação de outros 17 artistas brasileiros: Arnaldo Antunes (ex-Titãs), Tiê, Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Paulo Miklos (Titãs), Tiago Iorc, Lucas Silveira (Fresno), Filipe Catto, Zélia Duncan, Pedro Luís (Pedro Luís & A Parede), Fernando Anitelli (O Teatro Mágico), André Whoong, Lucas Santtana, Miranda Kassin, Tetê Espíndola, Helio Flanders (Vanguart), Felipe Roseno e Xuxa Levy.
Início de carreira
Chico Buarque chegou a ingressar no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo em 1963. Cursou dois anos e parou em 1965, quando começou a dedicar-se à carreira artística. Neste ano, lançou "Sonho de Carnaval", inscrita no I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, transmitida pela TV Excelsior, além de "Pedro Pedreiro", música fundamental para experimentação do modo como viria a trabalhar os versos, com rigoroso trabalho estilístico morfológico e politização, mais significativamente na década de 1970.
A primeira composição de Chico foi produzida aos 15 anos de idade, "Canção dos Olhos" (1959). A primeira gravação foi também uma marchinha, "Marcha para um dia de sol", gravada por Maricene Costa, em 1964.
Conheceu Elis Regina, que havia vencido o Festival de Música Popular Brasileira (1965) com a canção "Arrastão", mas a cantora acabou desistindo de gravá-lo devido à impaciência com a timidez do compositor. Chico Buarque revelou-se ao público brasileiro quando ganhou o mesmo Festival, no ano seguinte (1966), transmitido pela TV Record, com "A Banda", interpretada por Nara Leão (empatou em primeiro lugar com "Disparada", de Geraldo Vandré, interpretada por Jair Rodrigues). No entanto, Zuza Homem de Mello, no livro "A Era dos Festivais: Uma Parábola", revelou que "A Banda" venceu o festival. O musicólogo preservou por décadas as folhas de votação do festival. Nelas, consta que a música "A Banda" ganhou a competição por 7 a 5. Chico, ao perceber que ganharia, foi até ao presidente da comissão e disse não aceitar a derrota de "Disparada". Caso isso acontecesse, iria na mesma hora entregar o prémio ao concorrente.
No dia 10 de Outubro de 1966, data da final, iniciou o processo que designaria Chico Buarque como unanimidade nacional, alcunha criada por Millôr Fernandes.
Canções como "Ela e sua Janela", de 1966, começam a demonstrar a face lírica do compositor. Com a observação da sociedade, como nas diversas vezes em que citação do vocábulo janela está presente nas suas primeiras canções: "Juca", "Januária", "Carolina", "A Banda" e "Madalena foi pro Mar". As influências de Noel Rosa podem ser notadas em "A Rita", em 1965, citado na letra, e Ismael Silva, como em marchas-ranchos.
Festivais de MPB na década de 1960
No festival de 1967, faria sucesso também com "Roda Viva", interpretada por ele e pelo grupo MPB-4 — amigos e intérpretes de muitas das suas canções.
Em 1968, voltou a vencer outro Festival, o III Festival Internacional da Canção da TV Globo. Como compositor, em parceira com Tom Jobim, com a canção "Sabiá". Mas, desta vez, a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a canção que ficou em segundo lugar: "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré.
A participação no Festival, com "A Banda", marcou a primeira aparição pública de grande repercussão apresentando um estilo amparado no movimento musical urbano carioca da Bossa nova, surgido em 1957. Ao longo da carreira, o samba e a MPB seriam estilos amplamente explorados.
Trilhas-sonoras e adaptações de livros
Chico Buarque
Chico participou como actor e compôs várias canções de sucesso para o filme "Quando o Carnaval Chegar" e foi director musical de "Joanna Francesa" com Roberto Menescal, com quem compôs a canção-tema, ambos os filmes dirigidos por Cacá Diegues.
Compôs a canção-tema da longa-metragem "Vai trabalhar Vagabundo", de Hugo Carvana — Carvana chegou a modificar o roteiro a fim de usá-la melhor. Faria o mesmo com os filmes seguintes desse realizador: "Se segura malandro" e "Vai trabalhar vagabundo II."
Adaptou canções de uma peça infantil para o filme "Os Saltimbancos Trapalhões" do grupo humorístico Os Trapalhões e com interpretações de Lucinha Lins.
Outras adaptações de uma peça homónima de sua autoria foram feitas para o filme "Ópera do Malandro", mais um musical cinematográfico.
Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados: "Bye Bye Brasil", "Dona Flor e seus dois maridos" e "Eu te amo", os dois últimos com Sônia Braga.
Recentemente, chegou a ter uma participação especial como actor no filme "Ed Mort". Escreveu, também, um livro que virou filme, "Benjamim", que foi estreado nos cinemas em 2003, tendo como intérpretes dos personagens principais Cleo Pires, Danton Melo e Paulo José.
Em Maio de 2009, é lançado o filme "Budapeste" com roteiro baseado no livro homónimo de Chico Buarque. No filme, há também a participação especial do escritor.
Teatro e literatura
Musicou as peças "Morte e vida severina" e o infantil "Os Saltimbancos". Escreveu também várias peças de teatro, entre elas "Roda Viva" (proibida), "Gota d'Água", "Calabar" (proibida), "Ópera do malandro" e cinco livros: "Estorvo", "Benjamim", "Budapeste", "Leite Derramado e "O irmão Alemão".
Chico Buarque sempre se destacou como cronista desde os tempos do colégio; o seu primeiro livro foi publicado em 1966, trazendo os manuscritos das primeiras composições e o conto "Ulisses", e ainda uma crónica de Carlos Drummond de Andrade sobre "A Banda". Em 1974, escreve a novela pecuária "Fazenda modelo" e, em 1979, "Chapeuzinho Amarelo", um livro-poema para crianças.
"A bordo do Rui Barbosa" foi escrito em 1963 ou 1964 e publicado em 1981. Em 1991, publica o romance "Estorvo" (vencedor do Prémio Jabuti de melhor romance em 1992).
Quatro anos depois, escreve o livro "Benjamim".
Em 2004, o romance "Budapeste" ganha o Prêmio Jabuti de Livro do Ano.
Em 2009, lança o livro "Leite Derramado", que também recebe o Prêmio Jabuti de Livro do Ano. Em 2016, é anunciada a estreia da versão teatral deste romance pelo Club Noir, estrelada por Helena Ignez e Luiz Päetow.
Oficialmente, a vendagem mínima dos seus livros é de 500 mil exemplares no Brasil.
Polêmica sobre o Prêmio Jabuti
Tanto "Budapeste "quanto "Leite Derramado" venceram o Prêmio Jabuti como Livro do Ano sem terem vencido o mesmo prémio na categoria Melhor Romance. "Budapeste" foi o terceiro colocado na premiação de melhor romance de 2004, enquanto "Leite Derramado" havia sido o segundo colocado em 2010.
Após a escolha de 2010, muitas críticas foram feitas à forma de premiação, tendo em vista que, na premiação por categorias, o júri seria composto por especialistas, enquanto na premiação para Livro do Ano, a votação representaria a vontade dos empresários do sector. Os três primeiros colocados de cada categoria concorriam ao prémio final, de Livro do Ano. Uma petição on line, intitulada "Chico, devolve o Jabuti!", recolheu milhares de assinaturas. A editora Record (que publicara "Se Eu Fechar os Olhos Agora", de Edney Silvestre, vencedor na categoria melhor romance e preterido na votação final) criticou o regulamento do prémio, alegando que favoreceria pessoas com grande penetração na imprensa e seria um desrespeito para com o júri especializado e com os próprios autores, anunciando que deixaria de inscrever candidatos ao prémio. Com a polêmica, foi anunciado que em 2011 apenas os vencedores de cada categoria concorreriam à premiação final.
Programas televisivos
Chico deixou de participar de programas populares de televisão, dado ter tido problemas com a TV Excelsior, durante o ensaio para o programa do Chacrinha, em que um dos produtores teria feito uma piada com a letra da canção Pedro Pedreiro: "Não dá para esse trem chegar mais cedo, não?" - referindo-se à extensão da letra de sessenta versos. Irritado, Chico foi embora e nunca mais se apresentou no programa. O executivo Boni proibiu qualquer referência a Chico durante a programação da TV Globo, depois que ambos também tiveram um confronto, mas por pouco tempo, uma vez que ainda durante a década de 1970 (e o começo da de 80) músicas suas constavam das trilhas de várias telenovelas, como "Espelho Mágico" e "Sétimo Sentido". Com o fim da proibição, vários anos depois, Chico aceitou fazer um programa com Caetano Veloso, que contou com a participação de outros artistas.
Crítica ao Regime Militar do Brasil
Ameaçado pelo regime militar, esteve autoexilado em Itália em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Nessa época, teve algumas das suas canções - "Apesar de você" (que dizem ser uma alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici, mas que Chico sustenta ser em referência à situação) e "Cálice" - proibidas pela censura brasileira. Adoptou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: "Milagre Brasileiro", "Acorda amor" e "Jorge Maravilha". Em Itália, Chico tornou-se amigo do cantor Lucio Dalla, de quem fez a "Minha História", versão em português (1970) da canção "Gesù Bambino" (título verdadeiro "4 marzo 1943"), de Lucio Dalla e Paola Palotino.
Ao voltar ao Brasil, continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, económicos e culturais, como a célebre "Construção" ou a divertida "Partido Alto". Apresentou-se com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas em Inglaterra) e Maria Bethânia. Teve outra das suas músicas associada a críticas a um presidente do Brasil. Julinho da Adelaide, aliás, não era só um pseudônimo, mas sim a forma que o compositor encontrou para driblar a censura, então implacável ao perceber o seu nome nos créditos de uma música. Para completar a farsa e dar-lhe ares de veracidade, Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até chegou mesmo a conceder uma entrevista a um jornal da época.
Uma das canções de Chico Buarque que critica o regime é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao encenador teatral Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a regime militar. A canção intitula-se "Meu Caro Amigo" e foi dirigida a Boal, que na época estava exilado em Lisboa. A canção foi lançada originalmente num disco de título quase igual, chamado "Meus Caros Amigos", do ano de 1976.
Nordeste já
Valendo-se ainda do filão engajado após o regime militar, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de "We Are the World", o hit norte-americano que juntou vozes e levantou fundos para a USA for Africa. O projeto de criação colectiva sobre o poema de Patativa do Assaré, "Nordeste já" (1985) em apoio à causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto com as canções "Chega de mágoa" e "Seca d'água".
Genealogia e parentesco
O pai de Francisco Buarque de Hollanda, Sérgio Buarque de Hollanda, é primo em primeiro grau da mãe de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, Maria Buarque Cavalcanti Accioly Lins, sendo ambos netos de Manuel Buarque de Gusmão Lima. A avó materna de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, Luísa Buarque de Hollanda Cavalcanti, é irmã do avô paterno de Francisco Buarque de Hollanda.
Uma genealogia parcial
- Manuel Buarque de Gusmão Lima c.c. Maria Magdalena Pais de Hollanda Cavalcanti (Pais Barreto)
- Luísa Buarque de Hollanda Cavalcanti c.c. Berino Justiniano Accioly Lins
- Maria Buarque Cavalcanti Accioly Lins c.c. Manuel Hermelindo Ferreira
- José Luís Pais Barreto Buarque
- Cristóvão Buarque de Hollanda c.c. Heloísa de Araújo
- Luísa Buarque de Hollanda Cavalcanti c.c. Berino Justiniano Accioly Lins
O "eu" feminino
Composições que se notabilizaram pela decantação de um "eu lírico" feminino, retratando temas a partir do ponto de vista das mulheres com notável poesia e beleza. Esse estilo é adaptado em:
"Com açúcar, com afeto" escrito para Nara Leão; continuou nessa linha com belas canções como "Olhos nos Olhos" e "Teresinha", gravadas por Maria Bethânia, "Atrás da Porta", interpretada por Elis Regina, e "Folhetim", com Gal Costa, "Iolanda" (versão adaptada de letra original de Pablo Milanés), num dueto com Simone, "Anos Dourados" – um clássico feito em parceria com Tom Jobim para a mini série de mesmo nome e "O Meu Amor" para a peça "Ópera do Malandro" interpretada por Marieta Severo e Elba Ramalho sendo que, para essa última, fez também "Palavra de Mulher".
Intérpretes de Chico Buarque~
O cantor nunca se negou a oferecer composições originais aos seus amigos cantores. Muitas desses temas passaram a ter versões definitivas noutras vozes. Além das citadas canções do "eu" feminino de Chico, temos o exemplo da performance de Elis Regina na canção "Atrás da Porta" e "O cio da terra", com gravações de Milton Nascimento e da dupla rural Pena Branca & Xavantinho. Há também interpretações de Oswaldo Montenegro, que, em 1993, lançou o disco "Seu Francisco", produzido por Hermínio Bello de Carvalho, e Ney Matogrosso que, em 1996, lançou " Brasileiro".
Deve-se mencionar ainda o seu êxito noutras composições que fez para cantores populares que não estavam em destaque, como nos casos de Ângela Maria, que gravou "Gente Humilde", e Cauby Peixoto com "Bastidores". Dentre os artistas que regravaram músicas suas em estilo popular, podem ser citados ainda Rolando Boldrin, que relançou "Minha História", e a banda Engenheiros do Hawaii que, no ano 2000, gravou "Quando o Carnaval Chegar", no álbum "10.000 Destinos".
Parceiros
Desde muito jovem, Chico conquistou reconhecimento de crítica e público tão logo os primeiros trabalhos foram apresentados. Ao longo da carreira, foi parceiro como compositor e intérprete de vários dos maiores artistas da MPB como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho, Milton Nascimento, Ruy Guerra e Caetano Veloso. Os parceiros mais constantes são Francis Hime e Edu Lobo.
Obra teatral
Em 1965, a pedido de Roberto Freire, diretor do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Chico musicou o poema "Morte e Vida Severina" de João Cabral de Melo Neto, para a montagem da peça. Desde então, a sua presença no teatro brasileiro tem sido constante:
Roda viva
A peça "Roda viva" foi escrita por Chico Buarque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro, no início de 1968, sob a direcção de José Celso Martinez Corrêa, com Marieta Severo, Heleno Pests e Antônio Pedro nos papéis principais. A temporada no Rio foi um sucesso, mas a obra virou um símbolo da resistência contra o regime militar durante a temporada da segunda montagem, com Marília Pêra e Rodrigo Santiago. Um grupo de cerca de 110 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o Teatro Galpão, em São Paulo, em Julho daquele ano, espancou artistas e destruiu o cenário. No dia seguinte, Chico Buarque estava na plateia para apoiar o grupo e começava um movimento organizado em defesa de Roda viva e contra a censura nos palcos brasileiros. Chico disse no documentário "Bastidores", que pode ter havido um erro, e que a peça que o comando deveria invadir acontecia noutro espaço do teatro.
Calabar
"Calabar: o Elogio da Traição", foi escrita no final de 1973, em parceria com o cineasta Ruy Guerra e dirigida por Fernando Peixoto. A peça relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu tomar partido ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa. Numa das mais caras produções teatrais da época, custou cerca de 30 mil dólares e empregava mais de 80 pessoas. Como sempre, a censura do regime militar deveria aprovar e liberar a obra num ensaio especialmente dedicado para esse fim. Depois de toda a montagem pronta e da primeira liberação do texto, veio a espera pela aprovação final. Foram três meses de expectativa e, em 20 de Outubro de 1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome "Calabar" e "proibiu que a proibição fosse divulgada". O prejuízo para os autores e para o actor Fernando Torres, produtores da montagem, foi enorme. Seis anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura.
Gota d'água
Em 1975, Chico escreveu com Paulo Pontes a peça "Gota d'Água", a partir de um projeto de Oduvaldo Viana Filho, que já havia feito uma adaptação de "Medeia", de Eurípedes, para a televisão. A tragédia urbana, em forma de poema com mais de quatro mil versos, tem como pano de fundo as agruras sofridas pelos moradores de um conjunto habitacional, a Vila do Meio-dia, e, no centro, a relação entre Joana e Jasão, um compositor popular cooptado pelo poderoso empresário Creonte. Jasão acaba por abandonar Joana e os dois filhos para se casar com Alma, a filha do empresário. A primeira montagem teve Bibi Ferreira no papel de Joana e a direcção de Gianni Ratto. Luiz Linhares foi um dos actores daquela primeira montagem.
Ópera do malandro
O texto da "Ópera do malandro" é baseado na "Ópera dos Mendigos" (1728), de John Gay, e na "Ópera dos três vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O trabalho partiu de uma análise dessas duas peças conduzida por Luís Antônio Martinez Corrêa e que contou com a colaboração de Maurício Sette, Marieta Severo, Rita Murtinho e Carlos Gregório.
A equipe também cooperou na realização do texto final através de leituras, críticas e sugestões. Nessa etapa do trabalho, muito valeram os filmes "Ópera dos três vinténs", de Pabst, e "Getúlio Vargas", de Ana Carolina, os estudos de Bernard Dort "O teatro e sua realidade", as memórias de Madame Satã, bem como a amizade e o testemunho de Grande Otelo. Participou ainda o professor Manuel Maurício de Albuquerque para uma melhor percepção dos diferentes momentos históricos em que se passam as três óperas. O professor Werneck Viana contribuiu posteriormente com observações muito esclarecedoras. E Maurício Arraes juntou-se ao grupo, já na fase de transposição do texto para o palco. A peça é dedicada à lembrança de Paulo Pontes.
O Grande Circo Místico
Inspirado no poema do modernista Jorge de Lima, Chico e Edu Lobo compuseram juntos a canção homónima para este espectáculo, que estreou em 17 de Março de 1983. Durante os dois anos seguintes, viajaram pelo país apresentando este que foi um dos maiores e mais completos espectáculos já realizados. Um disco colectivo foi lançado pela Som Livre para registrar a obra, com interpretações de grandes nomes da MPB.
DISCOGRAFIA
Álbuns de Estúdio
Ano | Álbum | Certificações / Vendas |
---|---|---|
1966 | Chico Buarque de Hollanda | |
1966 | Morte e Vida Severina | |
1967 | Chico Buarque de Hollanda vol. 2 | |
1968 | Chico Buarque de Hollanda vol. 3 | |
1969 | Chico Buarque na Itália | |
1970 | Per un Pugno di Samba | |
1970 | Chico Buarque de Hollanda - Nº4 | |
1971 | Construção | |
1972 | Quando o Carnaval Chegar | |
1973 | Chico Canta | |
1974 | Sinal Fechado | |
1976 | Meus Caros Amigos | |
1977 | Os Saltimbancos | |
1977 | Gota d'Água | |
1978 | Chico Buarque | |
1979 | Ópera do Malandro | |
1980 | Vida | |
1981 | Almanaque | |
1981 | Saltimbancos Trapalhões | |
1982 | Chico Buarque en Español | |
1983 | Para Viver um Grande Amor (trilha sonora) | |
1983 | O Grande Circo Místico | |
1984 | Chico Buarque | |
1985 | O Corsário do Rei | |
1985 | Malandro | |
1986 | Ópera do Malandro | |
1987 | Francisco | |
1988 | Dança da Meia-Lua | |
1989 | Chico Buarque | |
1993 | Paratodos | Ouro - ABPD |
1995 | Uma Palavra | |
1998 | As Cidades | Ouro - ABPD |
1998 | Chico Buarque de Mangueira | |
2001 | Cambaio | |
2002 | Chico Buarque – Duetos | |
2005 | Chico No Cinema | |
2006 | Carioca (CD + DVD com o documentário Desconstrução) | |
2011 | Chico |
Álbum de Compilação
Ano | Álbum | Certificações / Vendas |
---|---|---|
1978 | Chico Buarque | |
1994 | O Melhor de Chico Buarque | Ouro - ABPD |
2004 | Perfil - Chico Buarque | |
2008 | Chico Buarque Essencial | |
2010 | Chico Buarque Perfil 2 |
Álbum ao Vivo
Ano | Álbum | Certificações / Vendas |
---|---|---|
1972 | Caetano e Chico Juntos e ao Vivo | |
1975 | Chico Buarque & Maria Bethânia ao Vivo | |
1986 | Melhores Momentos de Chico & Caetano | |
1990 | Chico Buarque ao vivo Paris Le Zenith | |
1999 | Chico Buarque Ao Vivo | Ouro - ABPD |
2004 | Chico Buarque Ao Vivo - Paris | Ouro - ABPD |
2007 | Carioca Ao Vivo | |
2012 | Na Carreira - Ao Vivo |
Compactos
Ano | Álbum | Certificações / Vendas |
---|---|---|
1968 | Chico Buarque de Hollanda | |
1968 | Bom Tempo | |
1969 | Umas e Outras | |
1970 | Apesar de Você | |
1977 | Cio da Terra | |
1980 | Show 1º de Maio | |
1997 | Terra |
Vídeos
Ano | Álbum | Certificações / Vendas |
---|---|---|
2005 | Vai Passar | Platina - ABPD |
2005 | Meu caro amigo | Platina - ABPD |
2005 | A Flor da Pele | Platina - ABPD |
2006 | Anos Dourados | Platina - ABPD |
2006 | Estação Derradeira | Platina - ABPD |
2006 | Bastidores | Platina - ABPD |
Outros trabalhos
Livros
| Peças
| Filmes
|
Prémios e Nomeações
Ano | Prêmio | Categoria | Nomeação | Resultado |
---|---|---|---|---|
1967 | Troféu Imprensa | Revelação do Ano | Chico Buarque | Venceu |
1972 | Melhor Cantor | Nomeado | ||
1975 | Venceu | |||
1976 | Nomeado | |||
1992 | Prêmio Jabuti | Romance | Estorvo | Venceu |
Livro do Ano Ficção | Venceu | |||
2002 | Grammy Latino | Melhor Álbum de Música Popular Brasileira | Cambaio | Venceu |
2004 | Prêmio Jabuti | Livro do Ano Ficção | Budapeste | Venceu |
Romance | Venceu | |||
2008 | Grammy Latino | Melhor Álbum de Música Popular Brasileira | Carioca - Ao Vivo | Nomeado |
2010 | Prêmio Jabuti | Livro do Ano Ficção | Leite Derramado | Venceu |
Romance | Venceu | |||
2012 | Grammy Latino | Álbum do Ano | Chico | Nomeado |
2013 | Prémio Casa de las Américas | Prémio de Narrativa José María Arguedas | Leite derramado | Venceu |
2014 | Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1972) | Categoria Romance | O Irmão Alemão | Venceu |
Nota: o presente post recolheu informação da Wikipedia, do Youtube e de letras.mus.br
Chico Buarque
Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
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